Eram três os morcegos amigos de longa data. Nasceram na mesma mata, frequentaram as mesmas cavernas a vida toda, vejam só! Esses três intrépidos hematófagos adoravam se reunir na torre da Igreja Matriz nas noites de quinta para sexta, principalmente quando era lua cheia, para gabarem-se dos seus atos e feitos mirabolantes, como todo jovem faz.
Chegada a hora, após as doze badalas da meia noite, Etelgaldo, Semagogo e Bosoé chegaram ao ponto de encontro que era bem no alto, perto da cruz. Cada qual mais veloz que o outro, e todos com as bocas cheias de sangue. Era a hora das histórias…
Etelgaldo, o maior dos três, começou mostrando a boca e os dentes tingidos ainda pelo sangue fresco e quente. Atendendo a curiosidade dos amigos, logo pôs-se a justificar seu grande feito:
— Querem saber de onde veio este sangue?
— Sim, sim! — Responderam os outros dois.
— Já viram aquela vaca holandesa premiada, lá da fazenda do Seu Chico Jacinto?
— Vimos! Vimos!
— Pois é… Eu a peguei! — Concluiu estufando o peito.
Logo em seguida foi a vez de Semagogo, que lambendo o sangue que ainda havia nos lábios começou a se gabar:
— Já viram aquela modelo que foi capa de revista ano passado? Aquela loira lá do centro que todo mundo fica cortejando?
— Sim! — Responderam os outros boquiabertos.
— Pois é… Eu peguei!
— Ohhhh — espantaram-se os amigos.
Faltava apenas Bosoé, o mais pacato dos três, para justificar o sangue vivo em sua boca. Vergonhoso e um tanto sem graça, ele começou a contar a sua história:
— Então amigos… Sabem a rua nova que abriram vindo aqui pra igreja?
— Sim, sabemos!
— Já viram o último poste que colocaram ao final da calçada?
— Sim, já vimos!
— Pois é — completou ele — eu não vi!